terça-feira, 28 de dezembro de 2010

brumas lunares...

No sopro das tuas mãos flutuo... 

com a vontade acesa de regressar 

à mesma praia planada... 

bruma dum planalto soterrado 

de falésias a rasgar o mar... 

e deixo o teu olhar glauco amadurecer

na mesma simbiose lunar...

 

 (para alguém especial... pois, 2010 foi um ano especial...)

 


Desejo a todos um excelente 2011...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sei...

                                                           Foto: Miguel Quaresma
                                                                                              

Sei da sombra fluente no pó cheio do deserto

sei da queda das estrelas no vácuo do tempo

sei da respiração suspensa na hesitação do sonho

sei do olhar embutido no rubro abismo ascendente

sei do voo desarvorado da palavra silenciada

sei do arvoredo flutuante na terra sem semente

sei do cântico sedento nas margens entornadas

sei do sorriso encerrado no segredo revelado

sei da falésia erguida nas escarpas do silêncio

sei do brilho salgado guardado no suor dos Deuses

sei da noite desviada na linha ténue da madrugada

sei do gelo herdado na fissura do olhar estilhaçado

 sei do renascer deste Amor num dia dito santo

sei dos homens que o designaram – “ressurreição”

não sei… sei, apenas sentir o pulsar do coração…

 



Foto: http://emblogliof.blogspot.com/

terça-feira, 2 de novembro de 2010

seM esperar

seM esperar
derrubaste o negro do mar que me secava
pintaste-o com o verde único do teu olhar
depondo a cada passo flores em vez de lava
e nesse gesto discreto fizeste-me sonhar

seM esperar
sonho quando acordo e estás a meu lado
belisco esse teu “bom dia” para acreditar
que o rio que corre sem margens é salgado
desfaz nós e forma laços de tanto te amar

seM esperar
esqueço as lâminas cortantes do passado
e nos teus braços abraço eternos presentes
oferendas límpidas do nevoeiro fustigado
e no teu peito nascem mil estrelas fulgentes

seM esperar
venero o teu templo agnóstico e luminoso
sopro desse deus Maior por nós tocado
silêncios nocturnos dum respirar misterioso
que reconheço no luar deste tempo provado

seM esperar
continuas a acontecer-Me
em cada momento
talvez… certo…


(esqueço-me do tempo... hoje... quando ele me tenta abrir velhas feridas passadas... a memória já não sangra... amparas-me na linha incerta que separa a Terra do Mar, lastro certo da divisão que os une... porque és o meu momento certo... assim,  há sete meses...  mudaste a minha vida... sem saberes... e eu... seM esperar...)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

luz respirada


envolta na margem do teu corpo
decifro a sombra alvorada de luz
e acendo a palavra inconfessada
fímbria dum respirar que seduz

reconheço na mesma respiração
o sopro quente do deserto molhado
provado na inversão deste chão
céu rubro do velho mar indomado

repouso no eco da tua assonância
o fulgor da vogal que me desperta
na profunda madrugada entoada

silenciada na paz da minha infância
e na tua pele revejo a porta certa
duma chave em nós reencontrada 



(para a minha luz "especial"...
que me inspira há quase sete meses...)


Imagem: Joma Sipe, in "Mayab" 
tela a óleo sobre cartão telado (2000)
http://jomasipe.no.sapo.pt/

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Quero


Quero a assimetria da perfeição de cada onda do mar
Quero a mestria da eclosão entoada no meu madrugar
Quero a tua pele de algodão inundada em cada chegar
Quero o deserto sem chão alagado no verde do olhar

Quero o divino encanto do nosso recanto rendilhado
Quero o sorriso feito pranto sem futuro nem passado
Quero o teu odor sacrossanto no meu mar respirado
Quero a lua vestida de branco sem drama nem fado

Quero a paz dum sonho encimado na ambivalência
Quero a palavra que proponho na livre veemência
Quero o teu rosto risonho ao reconhecer a essência
Quero o Amor onde ponho toda a minha existência

Quero-te...
nesse espaço real entre a tua Terra
nesse tempo sonhado do meu Mar...


Foto: Barbara Cole
 

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

no teu olhar glauco...


sei do olhar glauco e imenso de mansidão
sempre que irrompe das águas secretas
sede em mim, afogada nessa respiração
plena num voo repleto de borboletas

adivinho o tempo nas mãos cálidas
fogo duma paixão em apneia bebida
tracejada em mil pulsações contidas
onde reconheço o traço de outra vida

no teu beijo reluzem pérolas lunares
dum remoto local dourado de planura
Sul amanhecido na vontade do perto

e nessa livre confluência dos mares
desenho a nossa Lua com ternura
dum sonho que queremos (in)certo



( e no teu olhar glauco...  
 reconheço a margem (in)certa entre a "Terra e o Mar"...
desse nosso "até já"...)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

e o Amor és tu...


e o Amor és tu
nas noites abertas de luz - manto sagrado
das tuas mãos como vagas ondulantes
que nunca assim senti em nenhum passado,
são recortes tão certos quando entrelaçam
as minhas, como estrelas lunares elevadas
no crepúsculo de dois rios que se abraçam

e o Amor és tu
nos dias inundados deste Sol renascido
radiante no fulgor do primeiro sorriso
que guardo dentro dum saber intuído,
espaço dum cofre secreto - o coração
que mesmo magoado noutros pretéritos
reconhece o caminho certo da paixão

e o Amor és tu
nas madrugadas dóceis de branduras
sonho real no leito imenso da tua pele
como o sal dum mar que gera curas,
sem arestas crivadas no pensamento
e abre uma porta deste novo véu
transparente - nosso eterno momento 


segunda-feira, 5 de julho de 2010

rasgos sem rima



chegas num gesto abraçado
trazes nas Mãos o pó aceso das estrelas
e o brilho do negrume precipitado
dum outro Mar...

a luz eleva-se no culminar do entardecer
tocas as Margens na abrangência dos teus braços,
demoves o Manto bordado a pérolas negras
onde um dia me perdi

a luz regressa na transparência da noite,
como uma confissão silenciada...

(pour toi... trois mois après... M...)




Foto: pintura de Montserrat Gudiol, in "Pareja" [1972]

sexta-feira, 18 de junho de 2010

noites nossas


Prelúdio demorado das tuas mãos nas minhas
numa dança nocturna que queremos descalça
sentir o chão para a seguir lhe perder o rasto
a cada compasso que o brilho da noite realça

Adivinho no verde do teu olhar a paz sublime
decifrada no azul que nos une em felicidades
de momentos inscritos entre a Terra e o Mar
lastro do teu cheiro matizado por divindades

Adormeces no amanhecer da madrugada
e a tua respiração torna-se voz profética
ditada pela transcendência do teu acordar

O vento sopra no quadrante de nortada
e em nós acende-se uma Lua Nova céltica
iniciática deste tempo que quero cuidar


Foto: pintura de Henry Asencio
http://henryasencio.net/

terça-feira, 1 de junho de 2010

respiração


espero
dentro da pele onde guardo o segredo
da tua respiração madrugada de calmaria,
dum amor que já não pensava encontrar
compasso tão certo e terno do teu olhar

chegas
envolto em transparências ponteadas
duma pintura que reconheço o traço,
e o cheiro que me soterra na libertação
desse mar profundo, véu em ascensão

tocas
os meus destroços e plantas um Sol
jóia de ouro puro como a água verde,
que resvala no teu olhar, esboço recente
pacto de raiz deste tempo feliz e presente

respiro
na subtil leveza das palavras aplanadas
entre as arestas do que tento não pensar,
quando à entrada do quarto a poesia
dança no silêncio duma sacra liturgia



(há algo de sagrado na tua respiração, quando adormeces 
e eu fico acordada… escutando-Me, 
nesse sopro que um “Deus Maior” tem para me revelar…)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

beijo



o Sol embala a noite num cântico de luz
quando  juntos dedilhamos a madrugada,
num bailado em teus braços que seduz
a translúcida alvorada da tua chegada

a Lua rodopia num tempo fragmentado
inteiro nas tuas mãos como folhagem,
e desfolhas em mim um sabor sagrado
dum rio que procura tocar a  margem

resvalo nas escarpas verdejantes
floresta tão certa do teu olhar
transparência deste novo mar

colorimos o céu como amantes
demorada pintura ao acordar
do teu beijo no meu serenar

domingo, 2 de maio de 2010

aconteces-(Me)


aconteces-me
por dentro da verdade eterna
de ternos sossegos – inquietude
quieta neste anoitecer orado
oração coroada dos teus braços
em mim

aconteces-me
do outro lado da dor consentida
reconhecida e consertada
neste desconserto de amar
submergida planície que guardas
em ti

aconteces-me
quando as tuas mãos laçam as minhas
luz no Éter dum bailado azulado
e abrem laços de ternura serena
quando sobrevoamos as margens
em nós




..."só existe poesia porque existe o Amor e a Morte..." - disseste-me há um mês… no primeiro momento que os meus olhos tocaram os teus… reconheci-te quando atravessei a estrada dentro do sorriso que ainda não sabia ser teu… um mês depois, sei e sei-te…
(re) encontro no meio desta vida… e o vento ruidoso sopra lá fora entre jornais e cobardias...  mas não quero saber o que tentei saber num outro "Momento Certo"...  hoje,  em mim sopra uma brisa suave, livre como o teu olhar vestido de verdes imensos… inspirada dentro das noites infiltradas do teu odor respirado… filtro que começo a quebrar só para ti... (02-04-2010 / 02-05-2010)


domingo, 18 de abril de 2010

deixa




















deixa que o tempo revele o momento
desta incerteza certa que cruza o mar
até à última lápide do renascimento
sem tormento denso, deixa-te amar

deixa que a palavra liberte o vento
transparência em nós – depurada
sem águas densas, toque que tento
liberdade azul na tela cinzelada

caminhas no branco profundo
quando sinto a tua respiração
nivelada em mim, som inteiro

manhã no teu olhar oriundo
dum verde imenso em ascensão
textura perene do teu cheiro

em mim…



sorriste entre laivos feridos
e gotas guardiãs da memória,
atravessadas pela mesma dor 
que um dia conheci...
deixa-me tentar
adivinhar o caminho das tuas mãos,
na espuma das noites madrugadas
entre partilhas e permissões
que começamos a (nos) permitir…

(para ti… quinze dias depois…)

sábado, 10 de abril de 2010

Aprendo-(Te)


Aprendo-te mas não te prendo
Na aprendizagem vivenciada
Do tempo ainda breve crescendo
Das tuas mãos a cada chegada

Aprendo-te no verde do olhar
Maduro em ti, estranha surpresa
Do pouco que sei – sabendo-te
Ferida que guardo ainda ilesa

Falas do círculo subtil do meu olhar
Entre o castanho e o verde profundo
Quando planas dentro de mim sem fim

Breve ainda é o tempo deste novo mar
Que desagua na terra a cada segundo
Talvez sejas tu – o outro lado de mim



Ainda não sei do oásis que descobri no meio do meu deserto, talvez… 
ainda não sei, mas quero saber-(Te)...
uma semana depois…
talvez a Lua saiba de Nós, ainda sem nós...


(será que as palmas foram para nós?)