quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Há no teu respirar...

                               
Há no teu respirar
uma travessia em contra-luz que me seduz
deserto aberto e murmurante às feridas colhidas
na seiva da terra ardente
pérolas inquietas no refúgio do teu olhar,
onde guardo todo ao meu aMar…

Há no teu respirar
um poente eloquente em cada entardecer
nas marés de ouro liberto nas praias recolhidas
inquietas ao pudor das estrelas caídas
rendidas à música entoada no teu respirar,
cântico fogoso no meu silenciar…

Há no teu respirar
um sopro rasgado na fímbria dum sonho lunar
ceifado na prata duma planície florida
das minhas ocultas rosas-roxas-proféticas
sombreadas no glauco do teu olhar,
tela onde desenho o meu madrugar…

Há no teu respirar
uma loucura incandescente que acende
temporais suspensos na curva ascendente
transbordantes nos poros oceânicos
reconhecidos nos sons desse teu chegar,
ao segredo que guardo do teu respirar… 


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Poetar Contemporâneo

Dia 05 de Novembro às 17h30, na Livraria Portugal (Rua do Carmo-Lisboa) sessão de autógrafos do projecto "Poetar Contemporâneo" - vendas do livro revertem para a instituição de solidariedade social "Ajuda de Berço".

Este é um dos meus textos que integra a referida colectânea... 

 

 

 Sei...

Sei da sombra fluente no pó cheio do deserto

sei da queda das estrelas no vácuo do tempo

sei da respiração suspensa na hesitação do sonho

sei do olhar embutido no rubro abismo ascendente

sei do voo desarvorado da palavra silenciada

sei do arvoredo flutuante na terra sem semente

sei do cântico sedento nas margens entornadas

sei do sorriso encerrado no segredo revelado

sei da falésia erguida nas escarpas do silêncio

sei do brilho salgado guardado no suor dos Deuses

sei da noite desviada na linha ténue da madrugada

sei do gelo herdado na fissura do olhar estilhaçado

 sei do renascer deste Amor num dia dito santo

sei dos homens que o designaram – “ressurreição”

não sei… sei, apenas sentir o pulsar do coração… 

 

                                                     Foto: Miguel Quaresma

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Poetar Contemporâneo



"rasgos sem rima" - é um dos meus textos a integrar o "Poetar Contemporâneo" - a ser lançado no próximo dia 15 de Outubro, na Fundação Portuguesa de Comunicações, em Lisboa.

Os direitos de autor da venda deste primeiro volume, revertem para a Associação de Solidariedade Social -  "Ajuda de Berço".

Relativamente à minha ausência deste meu e vosso cantinho... prometo a todos os que me escrevem e contactam (e a todos os outros que desconheço o rasto de luz, mas sei que estão aí)  que irei regressar em breve... com mil palavras à solta... 

 ... porque há momentos certos na vida ... 


rasgos sem rima

chegas num gesto abraçado
trazes nas Mãos o pó aceso das estrelas
e o brilho do negrume precipitado
dum outro Mar...

a luz eleva-se no culminar do entardecer
tocas as Margens na abrangência dos teus braços,
demoves o Manto bordado a pérolas negras
onde um dia me perdi

a luz regressa na transparência da noite,
como uma confissão silenciada...

domingo, 3 de julho de 2011

este aMor


este  aMor  chegou com um sorriso
inesperado do outro lado da estrada
e sem saber porquê sorri para ele
para além da pele e da alma desejada

este aMor acordou o melhor de mim
num mar longínquo e liberto de amarras
obsessivas e lapidares agora enterradas
dum outro tempo de lágrimas apedrejadas

este aMor tem a cor da esperança
que nos teus olhos desagua meu aMor
prados insulares repletos de intensidades

este aMor abarca as pétalas duma flor
abraçada à luz solta de mil eternidades
quando o tempo pára e a paz se alcança


 (pour  toi... quinze mois après….)

Foto:  tela a óleo de Henry Asencio

domingo, 29 de maio de 2011

Há em ti...

                                        Tela s/acrílico da pintora Carmo Pólvora


Há em ti
uma bruma flutuante
acordada na noite ancorada
aos umbrais da dor passada

Há em ti
um sopro envolvente
volvido em cada dia debruçado
na insónia do poeta esquivado

Há em ti
uma planície deslizante
na vontade dessa luz enfeitiçada
fundida no luar da seara dourada

Há em ti
um perfume eloquente
no desvelo do mar assolado
ao mesmo deserto salgado

Há em ti
uma terra escaldante
que procura lentamente
a água certa e confidente


terça-feira, 3 de maio de 2011

"olhar insular..."




Acordo-te num compasso descompassado
sempre que me visto de chuva delirante
precipitada em acordes silenciosos,
sinuosos no sonho rendido ao instante

Acordo-te na ternura dos mil verdes
onde o meu olhar se perde na nota certa,
do teu olhar insular ao rasar o planalto
duma planície crescente em descoberta

Acordo-te como vento prenunciado
de prelúdios nocturnos reveladores
dum aMor Maior não anunciado
nome de arcanjo de mil condores

Acordo-te na quietude sussurrante
das manhãs que enganamos o Sol
no aconchego da nossa Lua sonhada
e ao nosso sorriso na dobra do lençol


Foto
Cristina Fernandes (Açores 2003 - Caldeira do Faial... ainda longe do meu "olhar insular"... do cheiro, do toque, da pele... do olhar que reencontrei sete anos depois numa rua lisboeta... um ciclo de Saturno... faz sentido... hoje...) 

terça-feira, 19 de abril de 2011

Nas tuas Mãos


Nas tuas Mãos
corre um rio arqueado em delta maior
onde crepitam mil margens angulares
na lareira intensa dos nossos olhares

Nas tuas Mãos
cresce um tempo soletrado no silêncio
de luares profanados por esta paixão
na terra ancorada dessa tua razão

Nas tuas Mãos
soltam-se asas de anjos flutuantes
envolvidos nas voltas da madrugada
e a lua amanhece cheia de luz salgada

Nas tuas Mãos 
desaguam sonhos como nascentes
fontes sedentas no ventre dos cristais
respirações etéreas como vendavais

Nas tuas Mãos
reconheço a profecia confessada
na voz do mar ao chegar 
à foz do verbo aMar...


quinta-feira, 17 de março de 2011

tento ser terra no Mar dos teus sonhos...



tento ser terra no Mar dos teus sonhos…
na abrangência das reticências – guardo-te
dentro de nós,  do tempo que se solta
nesta inquietude de paz que é aMar-te…

e sei-te nesse deserto sedento de Mar
oposto certo na desmesura da luz
imagem íntegra na arte desintegrada
ascensão que o teu olhar induz

rodopiam novos sonetos verdejantes
no verde fulminante que me doMa
e sustém a respiração dos aMantes

pulsam fragmentos no brilho vulcanizado
integrado por este aMor Maior
e sou terra real no nosso Mar sonhado...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Lentamente...



                                                            Foto: Miguel Quaresma
               
          
Rasgo o azul num voo quente que se rompe no silêncio
exasperada é a quietude deste novo espectro latente,
vitral de luz nascente em cada precipício sobrevoado
envolvência ardente no olhar do peregrino resistente

Foco duma fonte continuada em cada momento
superfície profunda e marginal na terra laminada,
onde se plantam raízes no mar erguido de apogeu
no olhar herege volvido na margem da madrugada

Lentamente, grau a grau há um poente sem idade
por dentro desse olhar que alcança o infinito do céu
e sem o tocar, trespassa-se na luz que me invade

Lentamente, suplanto o mesmo degrau jade
quando sorrio ao breu e a este amor que nasceu,
no mesmo olhar rendilhado de cumplicidade





Foto :http://emblogliof.blogspot.com/

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O teu olhar


Chegaste na Primavera profunda do caos estilhaçado
irrompeste por dentro da luz, como um anjo inesperado
soltaste asas apaziguadas na fúria do Mar abalroado
e voaste na noite rasgada, sedento de brilho salgado

No teu olhar luziam prados verdejantes fundeados
que seduziam as brumas sibilantes na floresta densa
arqueei a vontade nos teus verdes insularizados
e rendi-me a este aMor imenso, sem pertença

Hoje, unimos as mãos salgadas num só vento
que sopra ondulante, odorado no sabor da brisa
veemente é o momento, glauco o Mar poderoso

No teu sorriso nasce uma gota ainda em rebento
luar incendiado que a voz de Saturno profetiza,
e esqueço o pensamento no teu olhar luminoso


Foto : Net
(do teu olhar escorre a transparência da água do meu Mar...)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Transparência

                                                                                        Foto: Miguel Quaresma


Transparência decorrente sem tempo
Onde não procuro a razão eloquente
Simplesmente um olhar confidente
Raiado na penumbra da cor fluente

Transparente confissão deste tempo
Perscrutada na gruta da sedução
Lapidada por dentro da intuição
Sombreada no fogo desta paixão

Transparência eclodida no tempo
Esquecido nas vértebras da vida
Na água duma corrente sentida
Exausta na sede deserta bebida

Transparente o olhar com tempo
Abstraído da terra ao rasar o mar
Num voo lento e quente sem domar
O amor que hoje sei reencontrar…