houve um tempo,
que cortei a margem acesa
na sombra rugosa da manhã
como quem se confessa
aos sulcos duma esperança vã
e nesse tempo,
fundeei-me no negro oceano
onde derrubei tempestades
dum litoral de fogo insano
soprado entre orfandades
prossegui,
numa senda sem regresso
provei o sabor da devastação
do velho continente submerso
onde deixei preso o coração
depois... percebi,
que na luz desse território
fui água livre que deixou eco
lastro dum tempo migratório
onde o fim toca o (re)começo
e hoje,
sei da aprendizagem da dor
laminada no corte certeiro
da raiz crescente em flor
amor reencontrado inteiro
© Cristina Fernandes
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foto: Francisco Navarro
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