sexta-feira, 18 de junho de 2010

noites nossas


Prelúdio demorado das tuas mãos nas minhas
numa dança nocturna que queremos descalça
sentir o chão para a seguir lhe perder o rasto
a cada compasso que o brilho da noite realça

Adivinho no verde do teu olhar a paz sublime
decifrada no azul que nos une em felicidades
de momentos inscritos entre a Terra e o Mar
lastro do teu cheiro matizado por divindades

Adormeces no amanhecer da madrugada
e a tua respiração torna-se voz profética
ditada pela transcendência do teu acordar

O vento sopra no quadrante de nortada
e em nós acende-se uma Lua Nova céltica
iniciática deste tempo que quero cuidar


Foto: pintura de Henry Asencio
http://henryasencio.net/

terça-feira, 1 de junho de 2010

respiração


espero
dentro da pele onde guardo o segredo
da tua respiração madrugada de calmaria,
dum amor que já não pensava encontrar
compasso tão certo e terno do teu olhar

chegas
envolto em transparências ponteadas
duma pintura que reconheço o traço,
e o cheiro que me soterra na libertação
desse mar profundo, véu em ascensão

tocas
os meus destroços e plantas um Sol
jóia de ouro puro como a água verde,
que resvala no teu olhar, esboço recente
pacto de raiz deste tempo feliz e presente

respiro
na subtil leveza das palavras aplanadas
entre as arestas do que tento não pensar,
quando à entrada do quarto a poesia
dança no silêncio duma sacra liturgia



(há algo de sagrado na tua respiração, quando adormeces 
e eu fico acordada… escutando-Me, 
nesse sopro que um “Deus Maior” tem para me revelar…)